segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Outono



Não sei o que me fez parar na banca do seu João aquele dia.
Era outono, e como se não bastasse minha esquisitice, chovia.
Paisagem seca, árvores despidas e chão vestido de folhas, eu vestia casaco cinza, botas e jeans em uma terça-feira aparentemente normal.
Não fosse o senhor de cabelos grisalhos me dirigir aquelas palavras: “Você tem um olhar depressivo menina”.
Não sei o que levou aquele senhor a me dizer tais palavras.  Talvez fosse as olheiras e os olhos vermelhos, de quem havia passado a noite acordada entre taças de vinho, cigarros e muitos papeis amaçados jogados ao chão.
O ‘Senhor Zé Ninguém’ parecia adivinhar meu estado de espírito, ou realmente estava escrito na minha testa o quão sem sentido minha vida se encontrava?
O fato é que eu realmente não fazia questão de parecer feliz.  O outono têm dessas coisas, nos devolve o verdadeiro ‘eu’ que o verão nos obriga a mascarar.
Caminhei até o trabalho, cumpri com as obrigações do dia ansiosa por voltar pra casa e reencontrar o apartamento que me esperava para ouvir as lamentações do dia.
Voltar pra casa é sempre bom, poder dar ouvidos às vozes internas e conselhos das paredes que embora silenciosas, nos dá.
Os rascunhos nos papéis amaçados, as garrafas de vinho, o ócio e a insônia que me aguardavam para me acompanhar mais uma noite.
Tudo normal, não fosse o Senhor Zé Ninguém notar o que ninguém notava.
Um dia atípico na vida corrida da menina que mais parecia um panda com tantas olheiras.
“Esquece isso Elizabet.” Disse uma das taças de vinho encima da mesinha no meu quarto.
Escrevi mais algumas bobagens, e quando olhei pro relógio já era hora de me arrumar novamente para voltar pra vida de gente grande e a rotina do trabalho.
Mas aquele dia, eu nunca mais esqueci. 
Embora não tenha escrito sobre ele, permanece na memória em meio à sequidão do outono vivenciada por mim.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Somos o que podemos ser






Melodia.
Somos ressaca
energia.
Arrependimento,
dos goles exagerados da noite anterior.
Nostalgia.
Bons tempos. Bons ventos, para nós.
Para nós.
Nós, des (feitos)
Somos escuridão. Luz.
Piano e percussão.
Danças, andanças, chegadas e partidas.
Idas e vindas.
Somos o silêncio. O grito. O eco.
Perdão.
O cigarro aceso, a poeira, a fumaça.
Somos o tempo.
Pretérito imperfeito.
Tu, nós, vos.
Vozes...
Músicas.
Ser.
Podemos ser?



terça-feira, 16 de setembro de 2014

Poesia


Há que se existir um tratamento para alma
pro sentir do enfermo isolado.
do 'eu', que trafega no ermo abandonado
Algo que possa transpassar
o corpo efêmero e limitado

Para o corpo, analgesia.
Para a alma, poesia.
Para a solidão, companhia.
Para o poeta anestesia.










segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Chove lá fora e aqui


É meia noite, saí muito tarde do jornal e chove muito aqui.
Não têm mais ônibus esse horário e parece que os taxis tiraram o dia de folga, e eu estou sozinha na rua, aparentemente deserta, correndo debaixo dessa chuva.
Meus cadernos molharam, assim como meus sapatos e minha chapinha que se desfez em meio a tanta coisa que já foi por água a baixo na minha vida e nem precisou da chuva pra isso.
Não vale a pena chorar o leite derramado, tampouco a chuva derramada, nem as lágrimas derramadas, debaixo da chuva ou não.
Cansada de correr, paro, sento na calçada, deixo os cadernos de lado (pelo menos por agora) e resolvo colocar pra fora todo o sentir ressequido pelo tempo dentro de mim.
É hora de umidificar o ambiente de fora e de dentro, com chuva, ou quem sabe, com as lágrimas que resolveram se misturar às gotas de água.
Não me importo mais, (tá na chuva é pra se molhar) não é assim o ditado?
Molho os papéis, o rosto, os cabelos, exponho o interior pra receber a água da chuva, como minha mãe faz com as plantas dela em dia de chuva.
Me exponho.
Escancaro o sentir em excesso que me habita, a fim de que possa se diluir em maio à chuva e às lágrimas.
Os escritos "eternizados" por mim nas folhas começam a borrar a ponto de não se conseguir ler mais.
Só eu sei o que esses borrões significam. E significam tanto...
Com um nó na garganta, molhada, destruída, desiludida com a chuva, com o jornal, com os borrões, com tudo que se desfez debaixo desse 'pé dágua', desisto.
Desisto de voltar pra casa hoje e quem sabe nos próximos 10 anos...
Deixa chover, deixa borrar, deixa perder. Deixa.
Me deixa.
Deixa a chuva lavar/levar o que resta.
Mas não me esquece.
Que qualquer hora o dia amanhece, com o sol sorrindo pra mim novamente, e eu volto.
Pro jornal, pra casa. De taxi ou de ônibus, eu volto.
"Espera que o sol já vem"




domingo, 20 de julho de 2014

Renascendo das cinzas



Meu coração tem essa estranha mania de se recompor, se refazer.
Ele não morre na primeira morte, ele revive para acreditar novamente, para amar novamente.
Porque ele entende que a vida é feita também de morte.
Ele entende que se morre algumas vezes enquanto se vive, hora de tristeza, hora de amor...
Mas como uma Fênix que ressurge das cinzas, após uma aparente derrota, meu coração ressurge sempre que parece derrotado.
Ele está lá, no chão, agonizando, colocando todo seu amor vital pra fora. Enquanto seu rival lhe sorri sínico com seu olhar de vitória.
Mas o coração/Fênix é forte, é valente, e surge em meio aos seus restos espalhados pelo chão. Com força renovada, fé renovada, e cheio, transbordante de amor para dar.
Porque ele também entende que, se por um amor se morre, por outro amor se vive.
E para os amores que matam, existe sempre os que nos traz à vida novamente, até q não se morra mais.
Até que se viva para e por amar.
Em meio à vida que me trouxe, que relembro as mortes do passado, para não mais morrer de amor.
Mas viver e provar todo o doce sabor de amar e ser amada!

Num domingo frio, aquecida pelo amor que me faz viver. Joy <3

domingo, 29 de junho de 2014

Sen-ti (dos)


O Asteroide adormeceu e com ele adormeceram também meus sentidos.
Sinto-os adormecidos dentro, sonhando por um dia acordarem do pesadelo de se prenderem em sonhos.
Sentidos claustrofóbicos, ansiosos pra saírem, voarem livres das prisões de devaneios.
Engolidos à seco na primeira tentativa de se fazerem livres.
Seco, rasga, sangra, de dentro pra dentro de um labirinto de pesadelos.
Pesados. Toneladas deles.
Minha estatura não me permite aguentá-los.
Meu psicológico não me permite sustentá-los.
Não tem despertador interno que possa despertá-los.
Permanecem imóveis, com um silêncio ensurdecedor me torturam.
E eu, já sem forças me rendo.
Bandeira branca de mim, para mim mesma.
Sentidos. Senti-los. Sent-idos.
Sent-ir.



quarta-feira, 12 de março de 2014

Feita de pas-sados...





Engana-se quem pensa que somos feitos e construídos no hoje, no presente, no aqui/agora.
Todos temos uma história para contar, a história das nossas vidas. Uns mais breves que outros, mas sim, somos feitos de tijolos de ontem’s .

Dia após dia construímos isso que chamamos de vida.
“Vida: do latim, vita; o período que decorre entre o nascimento e a morte”
Durante esse período aprendemos, crescemos, estudamos, conhecemos pessoas, nos decepcionamos com umas, nos surpreendemos com outras. Choramos, rimos, perdemos e ganhamos coisas, pessoas, dias.
Dias...
O passar dos dias nos constrói , nos descontrói, nos molda...
O passar dos dias nos faz sermos o que fomos ontem, no que somos hoje, porém melhores. (nem todos, alguns não se permitem melhorar)
Encontre alguém que o ame, mas que acima de tudo ame seu passado. Porque é dele que você é feito, e não de hoje!
Encontre alguém que consiga aceitar todas as pedras do seu caminho, que saiba conviver com o cheiro das rosas e com o espetar dos espinhos.
Encontre alguém que ao se deparar com os seus espinhos saiba, e queira se encaixar neles e porque não ser espetado por eles?!
Não há roseira que não os possua. Não há porco-espinho que não os tenha, e os tendo fique sozinho. Sempre existe aquele que se permite ser junto com o outro. (Porco-espinho/passado-espinho. )
Sempre existe aquele que paga o preço das rosas convivendo também com os espinhos.
Encontre ESTE alguém!
Meu passado é meu e faz parte da minha história.
E eu vou olhá-lo sempre com a dignidade que ele merece!
Tem muito de mim lá, e muito dele aqui, todos esses dias me construíram e me moldaram da forma que sou hoje.
Sou feita de passados...
...e quem não é?
O segundo de agora, daqui a pouco vai ser passado, e assim sucessivamente construímos nossa história.
E embora tudo se faz novo no hoje, no agora, nós somos mesmo feitos do segundo que já não é, que foi... de ontem's.

Fui.

Sou.

Fui novamente.

Sou.

Paz-sou!

domingo, 26 de janeiro de 2014






Acalmemos nossas almas.
Que o tempo age como ele tem que agir;
calmo, suave, quase frio,
porque ele é assim, e quando corre,
esquenta, aquece, une.

Que ele cure o que tiver que curar.
Traga o que nos faz bem,
mas que leve com ele o que já não nos acrescenta.
Que ele corra, livre e solto,
para o abraço de almas aquecidas calmas e serenas.
Calma
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu
 ♫♪

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014