A vida é um rio de águas torrentes e impetuosas, pedregoso, com grandes quedas d'água, cachoeiras altas e curvas. E ele segue seu curso mesmo com todos os atributos mencionados.
Assim como o tic tac do relógio, ele não para. Nem nas curvas, tampouco quando vê a altura da próxima queda... ele segue, continua, enquanto o tempo passa. E este é atroz.
Atropela as pontes impostas, destroi, carrega o que tiver pelo caminho.
Nove meses, tempo necessário pro rio conseguir destruir qualquer obstáculo que ousar atravessar seu curso.
Não cabe julgá-lo.
Elizabeth se lança no rio, como quem espera uma cama elástica macia ao fundo.
O que ela não sabe é que ele possui pedras, galhos. E nele ela segue... Se machucando com os encontros e trombadas em tudo que encontra pelo caminho. Até enfim encontrar a calmaria de uma lagoa em um canto onde ela não sabe bem explicar geograficamente onde fica.
Com alguns arranhões, machucados e sangramentos, o rio para, para que Elizabeth possa se recompor.
Não se sabe quanto tempo demora para este feito. Um mês, ou nove talvez.
Importa que seja calmaria e traga-lhe um pouco de paz. Sem pedras, galhos e tempestades.
Boia seu corpo sobre a lagoa enquanto tudo passa.
Porque se o rio passa, as horas passam, o tempo passa, isso também há de passar.
Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio...
pois na segunda vez o rio já não é o mesmo,
nem tão pouco o homem!
...
Heráclito de Éfeso