domingo, 25 de outubro de 2020

gavetas trancadas

Elizabeth decidiu abrir a gaveta que não abrira desde a partida do que ela acreditava ser amor.
Chaves em mãos, sentada no chão ao lado da cômoda de madeira... impossível não conter as lágrimas que insistentes desceram rosto abaixo. Enxuga o rosto com a manga do moletom azul marinho, gasto pelo tempo. 
Puxa a gaveta, e encara as verdades que moram no móvel antigo. 
Papéis, cartas, anotações, e as velas do aniversário. Aquela festinha simpática que ela havia organizado naquele mesmo ano, mal sabia ela que só restara as velas, e o cartaz que viera com elas, "feliz aniversário". 
As lembranças daquela noite invadiram o cômodo, e deitaram ao seu lado no tapete bordado. 
Resolveram lhe contar os detalhes da noite do aniversário, e todo amor que foi dedicado no pequeno evento. 
Em meio às memórias construídas, Elizabeth se permite sentir saudade do ontem que, ela sabe, não volta mais. 
Ainda não é hora de descartá-las, mas senti-las. 
Haja coragem pra seguir em frente de mãos dadas com as memórias e com as gavetas destrancadas. Há que se ter coragem. 
Elizabeth entende que chegará o momento de limpar as gavetas, e ocupá-las com outras coisas. Mas por hora, abri-la e encarar tudo o que ela traz, ainda que em meio às lágrimas, é um ato de coragem. 
Fecha a gaveta, não carece de chaves. Elas serão abertas logo menos. 

sábado, 17 de outubro de 2020

I miss you


Não, não foi isso que aprendi no inglês hoje, mas nem todos os idiomas dariam  conta de verbalizar sua ausência. 

É que me apeguei aos “ontens” construídos, e meu agora é preenchido de faltas.

Falta que ocupa todo espaço dentro de mim. Ainda agorinha lembrei sua veia saltada no pescoço, pulsando rápido, por pouco não te beijei, você tava aqui! eu podia jurar que estava. 

Ando tendo alucinações e nem é efeito do benzoadiazepínicos, é a demasiada falta que você faz.

É quase palpável. Tangível.  

Aprenderia outras línguas para te dizer, quem sabe em alemão, ou até línguas mortas...o tamanho do espaço que você deixou.

Mas, por ora, “I miss you” da conta da carga semântica. Porque não dizer “estou com saudade?” Porque estou com muita saudade. Está doendo. Dói q nem choro mais. Secou. 

Com quantas memórias te faço presente agora?