domingo, 25 de outubro de 2020

gavetas trancadas

Elizabeth decidiu abrir a gaveta que não abrira desde a partida do que ela acreditava ser amor.
Chaves em mãos, sentada no chão ao lado da cômoda de madeira... impossível não conter as lágrimas que insistentes desceram rosto abaixo. Enxuga o rosto com a manga do moletom azul marinho, gasto pelo tempo. 
Puxa a gaveta, e encara as verdades que moram no móvel antigo. 
Papéis, cartas, anotações, e as velas do aniversário. Aquela festinha simpática que ela havia organizado naquele mesmo ano, mal sabia ela que só restara as velas, e o cartaz que viera com elas, "feliz aniversário". 
As lembranças daquela noite invadiram o cômodo, e deitaram ao seu lado no tapete bordado. 
Resolveram lhe contar os detalhes da noite do aniversário, e todo amor que foi dedicado no pequeno evento. 
Em meio às memórias construídas, Elizabeth se permite sentir saudade do ontem que, ela sabe, não volta mais. 
Ainda não é hora de descartá-las, mas senti-las. 
Haja coragem pra seguir em frente de mãos dadas com as memórias e com as gavetas destrancadas. Há que se ter coragem. 
Elizabeth entende que chegará o momento de limpar as gavetas, e ocupá-las com outras coisas. Mas por hora, abri-la e encarar tudo o que ela traz, ainda que em meio às lágrimas, é um ato de coragem. 
Fecha a gaveta, não carece de chaves. Elas serão abertas logo menos. 

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