sábado, 26 de maio de 2018

Dom Quixote


Muito prazer, me chamam de otário!
Disseram a Elizabeth na infância que ela possuía um cavalo branco. Elizabeth embora tivesse medo de cavalo, até tentou montar algumas vezes - sem êxito, lógico.
Cresceu pensando em nomeá-lo, mas nunca chegara a nenhum nome que coubesse naquele animal lindo, admirado, branco, com algumas manchas cinza no pêlo.
Sonhava montá-lo em puro pêlo e sair cavalgando sem rumo sentindo o vento dos moinhos bater no rosto de menina. O que ela não sabia, era que a menina Elizabeth continuaria morando dentro dela mesmo depois de madura.
Elizabeth, acende seu cigarro e repensa o nome que poderia ter tido seu bicho de estimação nunca montado - Dom Quixote! por amor às causas perdidas.
A ironia da donzela que cavalgou uma vida, em busca de uma outra donzela no mundo das ideias.
Platônica Elizabeth!
A amazona doce, com uma pitada de cinismo dos "amores herdados" ou não, sem donzela e Sancho Pança, com a péssima mania de confiar, de acreditar. Talvez este fosse seu pior defeito. (Embora não tenha, na infância, tido coragem e confiança necessária para montar seu bicho amigo.)
Cresceu amando causas perdidas, buscando uma justiça que hoje já nem sabe se realmente existe, têm um mundo dentro de si, que só ela e Platão entenderia.
Pobre Elizabeth! O mundo não é cor-de-rosa, embora você prefira lilás e azul, e sempre se vista de preto.
Um Quixote inventado num mundo de lutas diárias e verdadeiras.
Um tanto quanto esquisito e verossímil. Um degradê de histórias em Pastiche onde ela mesma se perde entre verdades inventadas.
Moinhos de ventos fortes, tufões, furacões dentro e fora, que sopram verdades revividas e reinventadas em sua cara.
Por amor às causas perdidas Elizabeth é um pastiche de Dom Quixote, onde o Sancho Pança ficou em mil novecentos e bolinhas e ela seguiu sozinha.
Cavalgando como amazona em imaginações coloridas por seus lápis-de-cor, já que o mundo real é cinza e vazio.
Traga os cigarros, engole o choro junto à fumaça, força de cavaleiro, coração de menina esperando a próxima história a ser re-vivida, para então ser reinventada, onde ela possa se reinventar também, mas sempre por amor às causas perdidas!

Muito prazer!
peixe fora d'água, borboletas no aquário...Muito prazer, meu nome é otário!

quarta-feira, 23 de maio de 2018

(a) Ocaso

Pôr-do-sol Boa Esperança MG

Hoje eu acordei e o dia tava com gosto de sábado, de verão, desses que a gente acorda cedo e ja veste a roupa de banho porque vai ter piscina.
Não sei porque, pois ainda debaixo de três cobertores faz frio.
Mas lá fora o céu ta azul, sem nenhuma nuvem.
A energia que me envolve é a mesma da infância, dos sábados no clube com os primos.
Hoje eu acordei e parecia sábado, talvez seja porque é meu dia preferido da semana.
É o dia em que abro as janelas e...uffa, posso respirar. Profundo e em paz sem as idas e vindas que a semana exige.
Hoje eu acordei e parecia sábado...
Têm sido sábado todos os dias desde que "o acaso" fez os ocasos do outono ficarem mais bonitos.
A capital fica pertinho do interior e Boa Esperança renova as esperanças de ser sábado todos os dias.
Hoje eu acordei e parecia sábado, embora não fosse.
Mas aqui dentro é!

domingo, 13 de maio de 2018

Sol-i-dão




    Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo[...] Poema 

Elizabeth tá bem crescida, todos dizem. Mas o que não sabem é que em todo adulto mora uma criança. Não! sem essa teoria de Petter Pan... é a criança, o menino ou a menina que mora dentro de todos nós crescidos.
Meninos e meninas que às vezes têm medo do pesadelo, tem medo do peso, do fardo da vida adulta. E as lembranças do passado, de quando íamos ao super mercado e a sacola menos pesada era a que nos davam pra carregar.
Depois de crescido você se vira com as sacolas do mercado. Pouco importa se seus braços dão conta de carregá-las.
Faz mais uma viagem - duas, três, "se vira" mas dê conta do recado. Eles dizem.
Mas ninguém conta que recado é esse.
Elizabeth se pergunta todo o tempo se o recado são as sacolas ou é a própria vida mesmo. Seus afetos, suas histórias - sua história, que pesada ou leve está sobre seus ombros. Carregue! Eles dizem.
A lembrança da beleza do tempo que aconteceu há minutos atrás, não se sabe se fere ou se faz sorrir. Elizabeth sente os dois! Elizabeth sente demasiadamente tudo. Seja o peso das sacolas do  supermercado, seja os des-afetos, seja da própria história, que hora ou outra resolve pesar sobre os ombros.
E a beleza dos minutos atrás faz chover. Umedece o lado de dentro e de fora. Tem gosto de soro sabe? Meio salgado, meio doce.
Mas adulto não liga com essas coisas. Pega a toalha se seca, grita dentro do travesseiro, por que adulto não reclama abrigo.
Adulto se abriga.
Elizabeth se vê só, acompanhada de si própria e essa companhia precisa ser leve, morna e ingenua e de forma alguma pode ficar no caminho
Se tem!
Se tenha, se possua!
Seque-se da tempestade que te assola, e em meio ao escuro da madrugada, entre cigarros, e contagem de estrelas da sacada do quarto - com o maço vazio agradece o dia que chega.
Porque a noite embora escura e fria, tem hora exata pra se aquecer novamente. Porque o sol sempre chega.
Ilumina a casa, seca resquícios da chuva e nos faz enxergar a beleza das coisas que aconteceram há minutos atrás.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Flore-ser



Elizabeth aprendeu que não se cura no lugar onde se feriu.
Há que sair da zona de des-conforto, subir o mais alto que puder, e enxergar a vida lá de cima. Como expectadora, assistindo de modo panorâmico tudo o que se passa do lado de dentro.
Há quem poda a planta antes de tempo, e ela morre coitada. Não entendem que para tudo há o seu tempo.
Há quem é chuva que rega. Há quem é luz da fotossíntese.
Há quem emana tudo isso ao mesmo tempo.
Sorriso, raio de sol que ilumina a/o univer(o) sidade.
Incendeia!
Recarrega baterias alheias, e cuida das flores dos jardins vizinhos.
Jardineira! "Pendura a pedra e se protege, se cuida."
Um paieiro, um suco, refri, uma conversa, ouvido, ombro...
Sorrisos!
Jardineira cuida das plantas sem notar. Mas rega.
Traz o necessário. E traz o sol, ainda que seja noite, dentro ou fora de Elizabeth.
Engrenagens funcionando.
O brotinho começa o processo de virar flor.
É hora de flore-ser!