sábado, 5 de dezembro de 2020

Regeneração

O sentir de Elizabeth se regenera tão rápido quanto o rabo de uma lagartixa ferida. Parece uma comparação tosca, e talvez seja, mas assim é. 

Elizabeth se permite e se encanta, e isso é belo, louvável, eu diria.  Sente medo, mas o desejo de se conectar novamente ao que chamam de amor, fala mais alto ao coração - bem como diz a música. 

E se encanta... sorri para as fantasias e devaneios, que já lhe são íntimos. Convida-os para entrar, sentar à mesa e tomar um café, bater um papo. 

E tudo é lindo...

Suspira,...

 e já não está mais aqui, mas ali, ou quem sabe lá? Não se sabe...

Fato é que, o ideal é sempre lindo para Elizabeth - e sim, o ideal platônico. 

Elizabeth tem apresso pela metafísica, e transcende... tanto que torna o ideal quase tangível. 

É pena que talvez não seja, e se não for, que assim seja. tudo bem. 

Quem é que sabe? Um dia, talvez. 

Devanear lhe é confortável, embora sua preferência seja mesmo o palpável, o toque, o cheiro e todos os sentidos impressos.

Importa que a vida que entra por suas narinas a cada suspiro, e toda a fantasia que constrói é combustível pra esse coração Fênix incansável de se encantar. 

Elizabeth deu outro sorriso em meio às fantasias... convém esperar. 

 

domingo, 25 de outubro de 2020

gavetas trancadas

Elizabeth decidiu abrir a gaveta que não abrira desde a partida do que ela acreditava ser amor.
Chaves em mãos, sentada no chão ao lado da cômoda de madeira... impossível não conter as lágrimas que insistentes desceram rosto abaixo. Enxuga o rosto com a manga do moletom azul marinho, gasto pelo tempo. 
Puxa a gaveta, e encara as verdades que moram no móvel antigo. 
Papéis, cartas, anotações, e as velas do aniversário. Aquela festinha simpática que ela havia organizado naquele mesmo ano, mal sabia ela que só restara as velas, e o cartaz que viera com elas, "feliz aniversário". 
As lembranças daquela noite invadiram o cômodo, e deitaram ao seu lado no tapete bordado. 
Resolveram lhe contar os detalhes da noite do aniversário, e todo amor que foi dedicado no pequeno evento. 
Em meio às memórias construídas, Elizabeth se permite sentir saudade do ontem que, ela sabe, não volta mais. 
Ainda não é hora de descartá-las, mas senti-las. 
Haja coragem pra seguir em frente de mãos dadas com as memórias e com as gavetas destrancadas. Há que se ter coragem. 
Elizabeth entende que chegará o momento de limpar as gavetas, e ocupá-las com outras coisas. Mas por hora, abri-la e encarar tudo o que ela traz, ainda que em meio às lágrimas, é um ato de coragem. 
Fecha a gaveta, não carece de chaves. Elas serão abertas logo menos. 

sábado, 17 de outubro de 2020

I miss you


Não, não foi isso que aprendi no inglês hoje, mas nem todos os idiomas dariam  conta de verbalizar sua ausência. 

É que me apeguei aos “ontens” construídos, e meu agora é preenchido de faltas.

Falta que ocupa todo espaço dentro de mim. Ainda agorinha lembrei sua veia saltada no pescoço, pulsando rápido, por pouco não te beijei, você tava aqui! eu podia jurar que estava. 

Ando tendo alucinações e nem é efeito do benzoadiazepínicos, é a demasiada falta que você faz.

É quase palpável. Tangível.  

Aprenderia outras línguas para te dizer, quem sabe em alemão, ou até línguas mortas...o tamanho do espaço que você deixou.

Mas, por ora, “I miss you” da conta da carga semântica. Porque não dizer “estou com saudade?” Porque estou com muita saudade. Está doendo. Dói q nem choro mais. Secou. 

Com quantas memórias te faço presente agora?

domingo, 2 de agosto de 2020

Feita de nó(s)

Feita de nó's, assim se encontra Elizabeth. Por mais que fale, e tenha falado ainda é só a ponta do iceberg, como dizem. Ou, melhor dizendo, é uma das pontas do emaranhado que ficou.
Metástase de nós.
Corpo dolorido, garganta fechada, musculatura rígida, como uma madeira maciça, não só seus músculos mas seus costumes. Talvez precise de uma massagem, sobretudo na alma.
Relaxar os sentidos em excesso.
Não tem chá calmante que dê jeito.
Por falar em nós, os pensamentos são um emaranhado só, desse "balaio de gato" que foram os últimos meses. Ou talvez os últimos trinta anos.
Haja disposição para colocar tudo no lugar. Desatar os nó(s), esticar o barbante até que arrebente e não reste mais nada, nem memória.
Há que se ter coragem em se permitir elos, laços e nós. Como sabiamente disse  O Principizinho "a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar". 
Elizabeth chora, tal qual Alice perdida no País das Maravilhas - inunda de si e acredita que, este seja o primeiro passo a desatar os nós do corpo, e os que os sentidos em excesso criaram chamando -os de "cativar".


quarta-feira, 15 de julho de 2020

Sem medo

Elizabeth, corajosa  que só, sempre paga os preços da sua ausência de medo. Quando criança, subia em árvores, das mais altas, gostava de ver o mundo lá de cima. - visão panorâmica.
Da juventude para cá aprendeu a mergulhar, de cabeça como dizem. Às vezes é raso o rio, mas não tem problema, um arranhão ou outro faz parte.
Já aconteceu de se machucar muito, quebrar ossos, mas esse é o de menos ela pensa.
Não é fácil ser destemida. A coragem lhe custa caro.
É  que os machucados causados, por mais que cicatrizados, trazem marcas profundas. Os mais recentes carecem de um enxerto, um preenchimento das faltas, das lesões.
Mas não é por isso que ela deixa de mergulhar. Hora ou outra lá vai Elizabeth com sua roupa de banho, sua toalha no pescoço, e pronto. Nem óculos de mergulho ela usa, que é para não embaçar a visão. Gosta de enxergar tudo com nitidez. Volta com uma ferida ou outra, algumas são refeitas pois não havia cicatrizado ainda, mas, ela é corajosa.
"A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar", ensinamento de sua leitura preferida. Por isso haja coragem de se machucar ao longo de tantos mergulhos.
Mas há que se permitir cativar, ser cativada, a coragem está em se mostrar vulnerável, humano, cativo.

sexta-feira, 27 de março de 2020

Elizabeth aprendeu a voar e admirar voos outros, embora seu desejo fosse mesmo voar com. 
Hora ou outra esbarra suas asas em pássaros selvagens, sem habitat natural, o céu não é limite. 
Limites que ela mesma desconhece, já que por vezes voou tão alto que o ar lhe ficou rarefeito. Perdeu os sentidos, teto preto, despencou... asas quebradas, consertadas, coladas, marcadas. 
Verborrágica. Prolixa. 
Há que se deixar tudo claro, claro como água. cristalina. 
Como águia, como fênix talvez - a  metáfora lhe cai bem. 
Fato é  que entre voos, encontros e despedidas carece de ser casa,  casa de barro. como é mesmo o nome do pássaro? João, João de Barro. 
Carece de ser árvore, pés fincados ao chão. Constância. 
Mas o ar em movimento é sedutor e lhe convida ao voo. 
Se assim é, que assim seja. 
Voemos! 


terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Elizabeth aprendeu a gostar do que os poetas chamam de solitude, dizem que é o estar em paz com a solidão. Esta que antes lhe doía o peito e trazia desespero... medo do escuro, da rua, do eco da casa vazia.
Como disse sabiamente Caio Fernando, “a gente acostuma!”.
Aparelho de som, herança de sua tia avó, ligado. Vassoura e rodo em mãos, é hora da faxina.
Aproveita a chuva que cai lá fora pra levar a poeira embora. 
Carece de ter as coisas em ordem pra trazer a sensação de controle de sua própria vida - características do Capricórnio no mapa astral. Controle traz estabilidade e chão firme, e ela precisa saber onde pisa (já se despedaçou muitas vezes por pisar falso em solo desconhecido). 
Controles da tv empareados milimetricamente calculado, sobre a mesinha de centro. 
Incenso queimando no parapeito da janela, as samambaias da decoração contrastando o verde forte com a madeira do chão de taco do apartamento. 
Tudo está em calma ali dentro, embora o som esteja alto. 
Casa em ordem, já pode receber visitas embora não tenha ninguém em mente pra convidar pra comer uma massa, tomar o vinho chileno que comprara com o último pagamento, e falar sobre astros, buraco negro do universo, ou o que passava na cabeça de Drummond quando escreveu “tinha uma pedra no meio do caminho”.
O que ninguém pode negar é que solitude combina com casa limpa e com a disposição de tudo dentro do apartamento.
Adaptar-se, tem sido confortável desde que fez as pazes com a solidão.
A gente acostuma. 

sábado, 1 de fevereiro de 2020

O tempo é agora

Elizabeth têm aprendido muito sobre tudo, deu-se um hiato para internalizar aprendizados e principalmente praticá-los.
O que ela não imaginava era que enquanto os dias passaram algumas de suas características permaneceram impressas. Somos um amontado de experiências e suas marcas e cicatrizes, essas permanecem ainda que as feridas se fecham.
O hiato passou e Elizabeth se percebe respirando, ufa! Foi só um susto! ou, mais um. E sabe também que muitos outros virão. Ela gosta dessas sacodidas da vida, ela precisa se sentir viva  vez ou outra e não somente no automático acordando cedo, trabalhando, pagando contas, se alimentando bem... Bem isso tudo é importante, mas precisa de mais. Carece de uma aventura ou outra pra estimular a produção de adrenalina. Saltar de paraquedas talvez. Ser vulnerável é uma aventura e tanto, mas após tanto tempo, Elizabeth opta por fortalecer os músculos – todos, o coração principalmente.
A prática hoje é correr, não é correr contra o tempo, mas a favor dele, fazer as pazes com ele. Tentar alcança-lo já que ele é tão rápido. e passa. e voa, como dizem.
Percebe-se que fortalecer os músculos não tem sido suficiente, há que se parar e silenciar se ouvir se aprender e entender o que esse senhor lhe ensinou durante o hiato que já é pretérito, mais que perfeito.
hora,
dia,
mês, ano e Elizabeth é a mesma na sua profundidade. Anseia por encontrar quem se encante por sua vulnerabilidade e poesia, e aceite, assim, viver  feliz para sempre.